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Jardim Dos Sentimentos: Reflexões sobre o Luto por Suicíd1o [Texto 02: Quebrando o Silêncio]

Atualizado: 17 de mar. de 2024

*As histórias aqui compartilhadas, são inspiradas em estudos, pesquisas e uma variedade de histórias reais compartilhadas publicamente, incluindo minha própria experiência. A intenção é, ao fazer essas histórias chegarem a outras pessoas sobreviventes enlutadas por suicídio, dar voz às suas emoções muitas vezes não expressas e promover um maior entendimento sobre a importância do apoio e da comunicação responsável e aberta.


Quebrando o Silêncio


Desde o trágico dia em que perdi meu irmão para o suicídio, sinto que uma parte de mim também se foi. No início, a dor era tão avassaladora que mal conseguia respirar. Eu buscava desesperadamente por apoio, por alguém que pudesse entender a tormenta que se abatia sobre mim. Mas, ao tentar compartilhar minha dor, me deparei com o silêncio constrangedor, os olhares de piedade e, o pior de todos, o estigma.


As poucas vezes em que mencionei a causa da morte de meu irmão, percebi uma mudança imediata na postura das pessoas. Algumas evitavam o assunto, outras ofereciam clichês vazios de consolo, e havia ainda aqueles que, mesmo sem intenção, me faziam sentir culpada pela tragédia. O suicídio parecia ser um tabu, uma mancha que as pessoas temiam que de alguma forma fosse contagiosa. A dor da perda já era insuportável, mas o peso do julgamento e do preconceito tornou-a insustentável.


Diante disso, escolhi o silêncio. Guardei minha dor e minhas perguntas sem resposta num canto escuro da minha alma, temendo que ao expressá-las, apenas atraísse mais estigma e isolamento. O silêncio tornou-se meu escudo contra o julgamento, mas também uma prisão que me impedia de buscar o apoio de que tanto precisava.


Nesse isolamento, os dias se tornaram uma luta constante para encontrar um sentido na minha própria vida, para entender como seguir adiante quando tudo o que eu queria era voltar no tempo e salvar meu irmão. Com o tempo, comecei a perceber que esse silêncio não estava me protegendo; estava, na verdade, aprofundando minha dor e impedindo a elaboração de minha perda.


A luta para romper esse silêncio e enfrentar os estigmas foi árdua. Finalmente procurei grupos de apoio para sobreviventes enlutados por suicídio, onde encontrei outras pessoas que, como eu, lutavam para dar sentido à sua dor. Nesses grupos, não havia julgamento, apenas compreensão, respeito e aceitação. Com aquelas pessoas, aprendi que não estou sozinha, que a dor pode ser compartilhada e que, juntos, podemos encontrar um caminho para a construção de um futuro tranquilo, apesar de nossa perda.


Além de participar dos grupos de apoio, li livros de pessoas enlutadas, como o da Carla Fine (Sem Tempo de Dizer Adeus - Como sobreviver ao suicídio de uma pessoa querida), me ajudou muito a entender que silenciar o meu luto não me protegeu; apenas adiou a busca por entendimento e paz. Compartilhar minha história e ouvir as de outras pessoas me ensinou a importância de enfrentar os estigmas e promover uma discussão aberta sobre o suicídio e o luto.


Ainda atravesso dias difíceis, mas agora tenho a coragem de falar sobre minha perda, na esperança de que minha voz possa ajudar a quebrar o silêncio e o estigma que cercam o suicídio, permitindo que outros sobreviventes enlutados encontrem apoio e compreensão. E quem sabe... compartilhando minha história, possa ajudar a alertar famílias que temem falar abertamente sobre o suicídio e dessa forma, podem não perceber os sinais de risco. Hoje entendo que não posso mais salvar meu irmão, mas posso ajudar a alertar. É uma forma de fazer com que minha dor não seja em vão. Meu irmão não terá morrido em vão.


Com afeto,


Sobre 🌻 Viver | Psicologia Clínica

Daniela Coelho Andrade

Psicóloga - CRP 11/08656

Esp. Logoterapia e Análise Existencial

Psicoterapia | Palestras | Capacitações

📱 Celular: (88) 9 97510037

📍 Clinicrato, Praça da Sé, nº 93, Centro, Crato-CE



Referência: Fine, C. (2018). Sem tempo de dizer adeus: como sobreviver ao suicídio de uma pessoa querida. São Paulo : Editora WMF Martins Fontes.


Ao enfrentar o desafio de viver o luto por suicídio, é essencial saber que existem recursos disponíveis para oferecer apoio e orientação durante este período difícil. Aqui estão algumas fontes de apoio ao luto por suicídio que podem ser de grande ajuda:


Centros de Valorização da Vida (CVV): Oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, por meio de atendimento voluntário e gratuito a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Contato pode ser feito pelo telefone 188 ou através do site www.cvv.org.br.


Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio: Disponibiliza informações sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio e fornece gratuitamente cartilhas informativas de grande qualidade.


Grupos de Apoio para Sobreviventes de Suicídio: Muitas cidades têm grupos de apoio específicos para pessoas enlutadas por suicídio, oferecendo um espaço seguro para compartilhar experiências e sentimentos com quem passa pela mesma situação. Você encontra também grupos online através da Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio


Serviços de Psicoterapia: Profissionais especializados em luto podem oferecer suporte individualizado para processar a perda e encontrar caminhos para elaboração do luto.


Buscar ajuda é um passo importante no processo de luto. Você não está sozinho(a) nesta jornada. Essas fontes de apoio podem oferecer o conforto e a orientação necessários para enfrentar este momento tão desafiador.

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Esse site não se destina ao atendimento imediato de crise suicida.

Em caso de urgência ligue para: CVV no número 188, Polícia no 190 ou SAMU no número 192.

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