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Jardim Dos Sentimentos: Reflexões sobre o Luto por Suicíd1o [Texto 04: Luto e a Reconstrução Familiar Após o Suicídio]

*As histórias aqui compartilhadas, são inspiradas em estudos, pesquisas e uma variedade de histórias reais compartilhadas publicamente, incluindo minha própria experiência. A intenção é, ao fazer essas histórias chegarem a outras pessoas sobreviventes enlutadas por suicídio, dar voz às suas emoções muitas vezes não expressas e promover um maior entendimento sobre a importância do apoio e da comunicação responsável e aberta.


Desde a morte do meu pai por suicídio, vejo minha família como um móbile, aquela peça delicada de decoração suspensa sobre o berço de um bebê que, se um de seus elementos for removido, desequilibra todo o conjunto. Quando meu pai se foi, esse equilíbrio foi rompido, e, de alguma forma, coube a mim, aos 31 anos, solteiro, assumir um novo lugar que ajudasse a restabelecer nossa harmonia familiar.


Hoje, olhando para trás, percebo como a morte do meu pai me desalojou dentro da nossa dinâmica familiar. Caminhos que poderiam ter sido trilhados ficaram no passado, irrecuperáveis. Por anos, lutei com a frustração dessa realidade imutável. Mas, após longos períodos de psicanálise, comecei a ver um significado mais profundo em nosso sofrimento compartilhado. O que senti não era apenas sobre mim; era sobre todos nós - meu pai, minha mãe, meus irmãos e eu. Cada um de nós estava lidando com a dor do luto da forma que era possível. O suicídio possui uma capacidade devastadora de desestabilizar toda a estrutura familiar, nos forçando a reconstruir a vida praticamente do zero, por isso a união familiar é fundamental.


Já perdemos outras pessoas da família, mas foi por outras causas. Hoje entendo que o luto exige que todos nos adaptemos a novos papéis, sei disso por ter consciência de que da mesma forma que ajudei a minha família, fui ajudado. Mas tudo parece mais intenso no luto por suicídio, pois lidamos com um turbilhão de emoções somadas ao fato de termos que lidar com julgamentos, e falsas e cruéis teorias sobre nossa família e sobre o ente querido que se foi. A falta de conhecimento sobre o suicídio faz isso, mantem as pessoas preconceituosas.


Durante anos, em muitos momentos representei a posição de meu pai, buscando um novo equilíbrio tanto para mim quanto para eles. Com o tempo, entretanto, percebi que era hora de reencontrar meu próprio lugar em nossa família, de voltar ao meu lugar original de filho, irmão e tio. Nada disso foi fácil. Mas hoje, posso dizer que nossa união ajudou e continua ajudando muito a organizar nossas emoções, e isso facilita seguir em frente.


Àqueles que enfrentam um luto semelhante, quero dizer: tenham paciência com o tempo necessário para se fortalecerem e entendam que cada pessoa da família vai precisa seguir no seu próprio tempo e ritmo para elaborar a perda. Eventualmente, as emoções se acalmam, e seguimos em frente, honrando a vida que compartilhamos com quem amamos, aquelas que já se foram e com aquelas que continuam caminhando com você.

Com afeto,

Sobre 🌻 Viver | Psicologia Clínica

Daniela Coelho Andrade

Psicóloga - CRP 11/08656

Esp. Logoterapia e Análise Existencial

Psicoterapia | Palestras | Capacitações

📱 Celular: (88) 9 97510037

📍 Clinicrato, Praça da Sé, nº 93, Centro, Crato-CE



Inspirado em:

Fine, C. (2018). Sem tempo de dizer adeus: como sobreviver ao suicídio de uma pessoa querida. São Paulo : Editora WMF Martins Fontes.

Kreuz, G., & Niehues Antoniassi, R. P. (2020). Grupo de apoio para sobreviventes. Psicologia em Estudo, 25. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.42427

Scavacini, K. (Org.). (2018). Histórias de sobreviventes do suicídio. Instituto Vita Alere; Benjamin Editorial.

Scavacini, K. (Org.). (2019). Histórias de sobreviventes do suicídio: Vol. 2. Instituto Vita Alere; Benjamin Editorial.

Scavacini, K. (Org.). (2021). Histórias de sobreviventes do suicídio: Vol. 3. Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.


Ao enfrentar o desafio de viver o luto por suicídio, é essencial saber que existem recursos disponíveis para oferecer apoio e orientação durante este período difícil. Aqui estão algumas fontes de apoio ao luto por suicídio que podem ser de grande ajuda:


Centros de Valorização da Vida (CVV): Oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, por meio de atendimento voluntário e gratuito a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Contato pode ser feito pelo telefone 188 ou através do site www.cvv.org.br.


Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio: Disponibiliza informações sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio e fornece gratuitamente cartilhas informativas de grande qualidade.


Grupos de Apoio para Sobreviventes de Suicídio: Muitas cidades têm grupos de apoio específicos para pessoas enlutadas por suicídio, oferecendo um espaço seguro para compartilhar experiências e sentimentos com quem passa pela mesma situação. Você encontra também grupos online através da Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio


Serviços de Psicoterapia: Profissionais especializados em luto podem oferecer suporte individualizado para processar a perda e encontrar caminhos para elaboração do luto.


Buscar ajuda é um passo importante no processo de luto. Você não está sozinho(a) nesta jornada. Essas fontes de apoio podem oferecer o conforto e a orientação necessários para enfrentar este momento tão desafiador.

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Esse site não se destina ao atendimento imediato de crise suicida.

Em caso de urgência ligue para: CVV no número 188, Polícia no 190 ou SAMU no número 192.

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